Há décadas marcando a imprensa nacional com seu estilo irreverente, a jornalista Barbara Gancia, 62, acompanhava uma amiga na dermatologista quando resolveu mostrar umas pintas estranhas. Começava ali uma jornada contra o melanoma que teria algumas reviravoltas antes do final feliz. Ela aproveita o Mês Internacional de Conscientização do Melanoma para compartilhar sua história.
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Meu histórico pessoal de melanoma se iniciou há mais ou menos 22 anos. Fui pega de surpresa ao descobrir dois tumores concomitantes. Na época, tinha uma pinta bem esquisita nas costas, mas não investiguei. O máximo que fiz foi abordar um amigo médico em uma festa, entre um canapé e outro. Mostrei o sinal e ele disse que não havia nada errado. Fiquei sossegada e esqueci o assunto.
Pouco depois, acompanhei uma amiga numa consulta com a dermatologista. Ela ia usar um vestido decotado no casamento da irmã e queria se preparar para arrasar na festa. Eu, que estava com uns 40 anos, nunca tinha ido ao dermatologista. Aproveitei e mostrei à médica o meu sinal nas costas e também outra pinta estranha na perna. Ao contrário do meu amigo, ela se assustou. Disse que eu deveria remover a pinta nas costas – e rápido! Com a pinta na perna ela não se preocupou e disse que não era nada.
Sou amiga há muitos anos do Drauzio Varella, quis saber a opinião dele. Ele foi taxativo: eu precisava remover os dois sinais. Ainda me alertou: ‘Você não imagina o tanto de pessoas esclarecidas que aparecem no meu consultório com casos graves de câncer de pele.”
Obedeci ao meu querido amigo e retirei as lesões. A biópsia confirmou a suspeita. As pintas esquisitas eram, na verdade, dois melanomas concomitantes. Ambos em estágios iniciais, ainda bem! Não precisei de outros tratamentos além da cirurgia. Perdi um bocado de pele, mas me curei.
Jornada contra o melanoma
O diagnóstico me espantou bastante. Tenho ascendência italiana e nunca fui muito de tomar sol. Cometi alguns excessos na adolescência, daqueles que deixam as mães desesperadas, mas, fora isso, nunca exagerei. Não havia nenhum caso de melanoma ou câncer de pele na família.
Se até os 40 nunca tinha ido a um dermatologista, após o melanoma o comportamento mudou. Segui rigorosamente o acompanhamento, com dermatoscopia a cada seis meses, e, depois, uma vez por ano. O tempo foi passando e o tumor não voltou. Sem perceber, comecei a descuidar. Não exagerava no sol, mas não me protegia tanto. Saía de casa sem filtro solar, ou, quando lembrava de passar, não reaplicava. As consultas médicas se espaçaram.
Em setembro passado, voltei a fazer dermatoscopia. Levei o maior susto ao descobrir outro melanoma na perna, bem próximo ao anterior. Fiquei amedrontada. Não tinha histórico de câncer de pele na família, mas tive câncer de tireoide e temi que piorasse o prognóstico do melanoma. Mas, novamente, se tratava de um tumor inicial. Que sorte!
Retomei o rigor com o acompanhamento e me tornei mais paranoica com a fotoproteção. Às vezes dou uma vacilada, especialmente quando estou em casa, mas tento me policiar. E vivo observando minha pele e a dos outros. Não tenho medo de encher a paciência se notar um sinal suspeito. Temos de ficar de olhos abertos e compartilhar informações. Quem se curou de melanoma, como eu, tem o dever de alertar o máximo de pessoas que puder. Muita gente não imagina que uma pinta esquisita, como as minhas, pode colocar a vida em risco.
Muito a agradecer
Até agora, só posso agradecer o desfecho dos meus casos de melanoma, não tenho do que reclamar. As cirurgias deixaram cicatrizes profundas, de uns 15 centímetros cada, mas nem ligo. Brinco que são três mordidas de tubarão. Nem pensei em fazer cirurgia plástica, para não comprometer o acompanhamento. Aceito as três numa boa – uso bermuda e tudo mais. Muito melhor ter as cicatrizes e ficar sem o câncer.
Aprendi também que essa história de abordar médico em festa é barca furada. Se notar algo estranho, consulte com um especialista para saber o que é. Meu amigo ficou chateado e pediu mil desculpas por ter dito que não era nada.
Hoje tento levar a vida da maneira mais saudável possível. Após o melanoma e o câncer de tireoide, meu querido Drauzio Varella insistiu muito para eu parar de fumar. Se um homem como ele, tão ocupado e requisitado, estava gastando seu escasso tempo comigo, só me restava obedecer. Parei de fumar e sigo firme no acompanhamento com o dermatologista. Quero contribuir com a conscientização sobre melanoma de todas as formas que puder.