Eu senti na pele – Paola Massari

Hoje vamos conhecer a história de Paola Massari, diretora de Eventos do Instituto Melanoma Brasil. Foram anos de exposição solar sem proteção. O resultado, ela e sua mãe tiveram melanoma. Confiram seu depoimento cheio de ensinamento:

“A minha família sempre foi muito solar. Desde sempre tínhamos o sol como algo que nos remetia a felicidade. Tínhamos casa na praia e passei minha infância e adolescência torrando no sol, junto de minha mãe e outros parentes. O sol era visto como algo extremamente saudável e sempre saímos torradas, queimadas mesmo. Passávamos Coca-Cola, pois na época não existia essa gama de protetores e bronzeadores que temos, mas depois era só aplicar cremes para amenizar. Isso era o máximo.

Era daquelas pessoas que ficava depressiva no outono e inverno. Mas bastava chegar o verão e as épocas mais quentes para não parar em casa. Era clube, era praia. Hoje, com 51 anos, vejo como as coisas mudaram e me arrependo dos exageros. Demorou, mas aprendi.

A ficha começou a cair quando comecei a trabalhar para um dermatologista. Certa vez, ele foi participar do programa da Silvia Poppovick e levou eu e minha mãe como modelos. Pensamos que íamos abafar com nosso bronzeado, mas não. Fomos exemplos do que não deveria ser feito e dos males causados pelo sol. Confesso que cheguei até a ficar desconfiada do médico, pois não acreditava naquilo que ele falava. Não demos bola, saímos de lá e vida normal, tomando muito sol.

Passaram alguns anos, isso há mais ou menos 20 anos, e minha mãe se queixou de um carroço abaixo das axilas. Foi ao médico, fez exames e o diagnóstico de melanoma metastático. Mandaram a biopsia para os Estados Unidos, pois na época, nem os médicos sabiam ao certo o que era e nós muito menos.

Nessas pesquisas não acharam o melanoma primário da minha mãe. Ela sempre teve muitas pintas na pele, mas todas elas foram tiradas pelo ginecologista e jogadas no lixo. Então, certamente, nunca iriam achar mesmo. Outro erro!

Como a doença era praticamente nova, os médicos não nos alertaram da gravidade. Minha mãe chegou a fazer quimioterapia, mas depois seguiu tomando sol normalmente. Passaram-se nove anos e apareceu uma nova metástase. Desta vez no mediastino, região torácica. Operou, não precisou fazer nenhum tipo de tratamento e passou a fazer acompanhamentos, bem mais modernos.

Mais alguns anos se passaram e chegou minha vez. Eu tinha algumas pintas pelo corpo e minha mãe sempre reclamava delas, apesar de não achar que elas tinha relação com a quantidade de sol que tomávamos. Fiquei cismada com uma delas, na coxa, que crescia e mudava de cor e fui ao médico, que me tranquilizou dizendo que não era nada grave.

Foi então, há quatro anos, que por recomendação da minha mãe, fui até sua esteticista e mostrei minha pinta. No mesmo momento, ela me encaminhou para uma dermatologista que ficava no consultório do lado. Fui atendida e saí com o encaminhamento para exames no A.C Camargo. Fiquei assustada, mas fui! Durante consulta, o dermatologista já suspeitou de melanoma nas duas pintas, da coxa e das costas.

Não acreditava que estava com melanoma. Fiquei bem angustiada com a possibilidade. Comecei a pesquisar no Google, como a maioria, e fiquei totalmente arrasada. Comecei a pensar na minha vida, no meu filho, que possuiu uma doença rara e, até receber o resultado do exame, foi uma tortura.

O resultado: melanoma maligno. Mas para minha sorte não era tão profundo. Fiz vários exames para ver a possibilidade de metástases. Em toda minha vida, a palavra metástase sempre me assustou mais do que a palavra câncer. E graças a Deus o resultado deu negativo.

Não precisei fazer tratamento, devido a profundidade do melanoma, mas sigo fazendo acompanhamento de três em três meses. Com tudo isso, passei a entender a doença e de como o meu histórico solar foi prejudicial. Fui encaminhada para a unidade de tratamento de Melanoma Familial, do A.C Camargo, que começou a investigar nossa história, pois não é tão comum pais e filhos terem melanoma.

Com tudo que passei, uma amiga apresentou a Rebecca Montanheiro e foi ai que encontrei o Instituto Melanoma Brasil. Como sempre fui muito atuante no terceiro setor, até por conta da doença do meu filho, quis logo ajudar. Liguei para Rebecca, contei minha história e foi assim que comecei a ser voluntária da ONG e abraçar a causa do melanoma.

Após eu receber meu diagnóstico, não tomei mais sol. E minha mãe, depois de tudo que passou, continuou tomando. Não fiquei neurótica, mas fiquei atenta. Não tomei mais sol com medo de um segundo melanoma. Me preocupa muito saber que posso adoecer e não poder cuidar do meu filho.

Não mudamos a rotina da família por conta da minha doença, mas passamos a tomar muito cuidado durante a exposição solar. Já minha mãe relutou e continuou tomando sol. Até que apareceram vários carcinomas basocelulares em seu rosto. Ela tira um, aparecem outros. Com isso, ela entrou em pânico e se arrependeu amargamente de seus hábitos. Atualmente, ela mora na praia, mas entendeu que o sol não é tão seu amigo. Depois dela, novos casos de cânceres de pele apareceram na família, com meu irmão, minhas primas.

Demorou, mas tudo isso serviu de alerta. Nos adaptamos, passamos protetor solar, usamos roupas adequadas e seguimos. Já eu, incorporei o trabalho de educação do Melanoma Brasil para a vida, que é fundamental, salva vidas. Sonho que este país tenha políticas públicas para que todos possam ser tratados da mesma maneira. É inadmissível uma pessoa sem plano de saúde não ter acesso a todos os tratamentos existentes para tratar o melanoma no Sistema Único de Saúde (SUS). 

Olho a pinta das pessoas nas ruas, na farmácia, oriento buscar ajuda médica, não paro. Acredito que a divulgação e apoio que damos aos pacientes é fundamental para alertar sobre esse câncer tão letal e agressivo. Mas sei que nossa luta é muito maior.

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