Fabiana Carotenuto Gupta

 

A história da Fabiana Carotenuto Gupta, 52 anos, mostra como a cultura do bronzeado, aparentemente inofensiva, pode aumentar o risco de câncer de pele, incluindo o melanoma, o tipo mais agressivo da doença. Brasileira e especialista m educação infantil, vive desde 2001 nos Estados Unidos, onde mora com o marido e as duas filhas, de 11 e 9 anos. Ela, que já chegou a usar cabines de bronzeamento artificial todos os dias, hoje faz questão de ser a mais coberta da praia. Veja a seguir seu relato. 

Infância bronzeada: onde tudo começou


Sempre adorei o sol. Na adolescência, aqui no Brasil, tinha uma cadeirinha reservada no quintal especialmente para me bronzear quando voltava da escola. Ter a pele bronzeada era um símbolo de beleza e saúde, e esse hábito me acompanhou por muitos anos. Tenho pele e cabelos claros, mas não ficava vermelha. Bronzeava bastante, virava morena e achava lindo. Mal sabia o risco que corria.

Quando a falta do sol virou bronzeamento artificial


Em 2001, me mudei para Iowa, nos Estados Unidos, para cursar mestrado. Esse estado é conhecido pelo frio intenso. Mas logo achei uma forma de manter a cor em dia: as cabines de bronzeamento artificial.


As clínicas de bronzeamento artificial, aliás, pipocavam pela cidade. Muitas ofereciam planos mensais ilimitados, cartões de fidelidade e eram frequentadas até por adolescentes. Rapidamente se incorporaram à minha rotina. Havia uma clínica perto da faculdade que eu frequentava entre uma aula e outra. Cheguei a ir todos os dias. Era viciante. O calor das lâmpadas aliviava o frio do inverno e trazia conforto. Era um momento de relaxamento, totalmente normalizado.

A mudança para o Arizona e a vida sob sol intenso


Depois de quase 10 anos em Iowa, me mudei para o Arizona, onde as temperaturas chegam a 45 °C. Lá, retomei o velho hábito de me expor ao sol. Após os 35 anos, temendo o envelhecimento precoce, passei a tomar mais cuidado com a pele do rosto, usando filtro solar e boné. Mas só.

O histórico familiar acendeu o primeiro alerta


Assim como eu, meu pai tem pele clara e se expôs muito ao sol. Por isso, desenvolveu vários carcinomas basocelulares e espinocelulares. Um deles exigiu um enxerto cutâneo; outro, reconstrução nasal. Três anos atrás, em meio a um desses tratamentos, o médico dele recomendou que eu e meu irmão procurássemos um dermatologista para mapeamento corporal, pois temos muitas pintas no corpo.
De volta aos Estados Unidos, a primeira coisa que fiz foi agendar uma consulta médica. Foi então que liguei o sinal de alerta e iniciei uma rotina mais rigorosa de fotoproteção, exposição solar segura e acompanhamento dermatológico anual.

Um resultado inesperado


Como já comentei, meu pai teve carcinoma basocelular no nariz. Vim para o Brasil acompanhá-lo em um dos tratamentos. Fiquei preocupada com uma pinta feia que eu tinha na mesma região. Quando voltei aos EUA, tratei de buscar ajuda médica.
A dermatologista mediu a pinta, mas não se assustou. Pediu que eu retornasse em três meses. Na correria, demorei cinco meses para voltar.


A médica fez um exame corporal completo e nem se preocupou com a pinta no nariz. O que chamou sua atenção foram outras três pintas, que encaminhou para biópsia. Uma delas era minúscula; eu nem sabia que tinha. Removi os sinais e esperei os resultados.

Uma semana depois, enquanto fazia compras no supermercado, recebi um telefonema da médica. Ela mesma fez questão de ligar; não pediu para a secretária. Pediu que eu comparecesse sem demora ao consultório. Gelei. Tive certeza de que havia um problema, possivelmente um carcinoma basocelular.
Mas a consulta me mostrou que eu estava errada. Das três pintas que retirei, duas estavam normais. Mas a menorzinha não era um carcinoma basocelular, mas sim um melanoma.

Meu mundo caiu. Na hora eu só conseguia pensar:“Será que vou morrer? E as minhas filhas?”
A médica me tranquilizou e disse que seria necessário avaliar o Índice de Breslow (espessura do tumor). Felizmente, o melanoma era bem superficial e com boa chance de sucesso no tratamento.

Cirurgia: precisa, local e decisiva


Consegui tratar o tumor apenas com cirurgia micrográfica de Mohs, sem terapias adicionais. O corte foi grande — 17 pontos —, mas o procedimento foi rápido e com anestesia local. Não precisei ficar internada.
De tão precavida que sou, cheguei a fazer um exame de PET scan, mesmo sem necessidade. O exame, previsivelmente, veio normal. Sigo firme no acompanhamento: primeiro, a cada três meses; hoje, a cada seis meses. Futuramente, será anual.

De “adoradora do sol” a exemplo de fotoproteção


Essa experiência mudou totalmente a minha vida. Se antes adorava o sol, hoje eu:

  • uso protetor solar FPS 70 todos os dias, até para ir ao mercado;
  • não saio sem chapéu, óculos e roupas UV;
  • uso até luvas de fotoproteção. Dirijo 45 minutos todos os dias e esse cuidado faz diferença.

Além disso, examino a pele mensalmente e peço ajuda às minhas filhas nos lugares difíceis de enxergar. Virou um ritual nosso. Fico de olho na pele de parentes e amigos também.
Se antes eu amava pegar cor, hoje me assumo “branquela” sem problemas. Sou sempre a mais coberta no clube ou na praia. Uso capa, óculos, blusa de manga comprida, chapéu e o que mais precisar. Algumas pessoas olham torto, mas nem ligo.

A transformação como professora e mãe


Eu trabalho com educação infantil, então busco, na medida do possível, construir uma nova cultura com meus alunos e seus pais. Incentivo todo mundo a usar chapéu, procurar sombra, evitar a exposição direta.
Com minhas filhas, instituí o uso diário de filtro solar, roupas UV e autoexame da pele periódico.

Sobre o bronzeamento artificial


Acho que nem preciso dizer que nunca mais cheguei perto de uma câmara de bronzeamento artificial. Para mim, isso tinha de ser banido. Concordo totalmente com a legislação brasileira que proibiu o uso desse equipamento por motivações estéticas. Quem acha exagero certamente não sabe o perigo que corre, como eu mesma não sabia.

“Se eu pudesse voltar no tempo…”


Se eu pudesse voltar no tempo, faria muita coisa diferente. O bronze da juventude sumiu da pele, mas deixou marcas na minha história. Além do melanoma, o sol em excesso me fez sofrer com manchas, flacidez e outros problemas que talvez eu não tivesse.

Mas, já que não posso mudar o passado, tento caprichar no presente e ajudar a construir um futuro melhor, com exposição segura, proteção e menos risco de melanoma e outros tipos de câncer de pele.


Proteger a pele é proteger a vida, e nunca é cedo para começar.

 

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